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Percepções sobre os artigos de Sigmund Freud Dois Princípios do Funcionamento Mental (Princípio do Prazer e Princípio da Realidade), de 1911, e A Pulsão e Seus Destinos, de 1915.

Percepções sobre os artigos de Sigmund Freud Dois Princípios do Funcionamento Mental (Princípio do Prazer e Princípio da Realidade), de 1911, e A Pulsão e Seus Destinos, de 1915.

05 de agosto de 2023
Alexandre Prado de Freitas Ribeiro
Membro do Programa de Formação em Psicanálise da Escola Britânica de
Psicanálise

 

05 de agosto de 2023

Alexandre Prado de Freitas Ribeiro

Membro do Programa de Formação em Psicanálise da Escola Britânica de Psicanálise

 

No artigo “Dois Princípios do Funcionamento Mental”, publicado por Sigmund Freud em 1911, ele introduziu os princípios do prazer e da realidade, que desempenham um papel fundamental na compreensão do funcionamento mental. Esses princípios guiam a forma como os indivíduos buscam satisfazer seus desejos e lidar com o mundo ao seu redor.

 

O princípio do prazer afirma que o objetivo básico do aparelho psíquico é buscar o prazer e evitar o sofrimento. Ele está associado à pulsão de vida, representada pela busca do prazer, satisfação de desejos e gratificação imediata. O princípio do prazer busca reduzir a tensão e maximizar as experiências agradáveis.

Por outro lado, o princípio da realidade reconhece as limitações do mundo externo e a necessidade de lidar com as demandas e frustrações da realidade. Ele está associado ao princípio de realidade, que envolve adiar a gratificação, lidar com conflitos e encontrar formas adaptativas de lidar com o mundo. O princípio da realidade atua como uma moderadora das exigências do princípio do prazer.

A relevância do artigo de Freud reside na compreensão dos conflitos internos entre esses dois princípios dentro do aparelho psíquico. Freud argumenta que a tensão resultante desses conflitos é uma fonte importante de problemas psicológicos e distúrbios mentais.

Uma implicação importante desse artigo é o conceito de repressão. Freud argumenta que, em muitos casos, os desejos e impulsos inaceitáveis para a sociedade são reprimidos no inconsciente. A repressão ocorre quando essas pulsões são afastadas da consciência e empurradas para o inconsciente, onde continuam a exercer influência na vida mental do indivíduo. A repressão é uma forma de defesa psíquica que protege o ego de conteúdos indesejáveis e conflitantes.

Outra implicação importante é a compreensão dos sintomas psicológicos como expressões simbólicas e deslocadas dos conflitos internos. Os sintomas neuróticos, como ansiedade, fobias e compulsões, são considerados resultados da luta entre os princípios do prazer e da realidade. Esses sintomas podem representar uma tentativa de satisfazer as pulsões reprimidas, mesmo sob as restrições da realidade externa.

Além disso, o artigo destaca a importância do trabalho analítico na psicanálise. Ao explorar o inconsciente e as camadas mais profundas da mente, a psicanálise busca trazer à consciência os conteúdos reprimidos e os conflitos subjacentes. Esse processo de análise permite que o indivíduo ganhe insights e encontre novas formas de lidar com os desafios emocionais e psicológicos.

Os princípios do prazer e da realidade têm grandes impactos na vida das pessoas. Eles influenciam a forma como buscamos a satisfação, lidamos com a frustração e nos adaptamos ao mundo ao nosso redor. A compreensão desses princípios pode promover maior autoconhecimento, bem-estar, crescimento pessoal e a capacidade de lidar com os desafios da vida de maneira mais saudável. 

Em 1915, Freud escreveu um outro artigo intitulado “Pulsões e Seus Destinos”, também traduzido no Brasil por “Os Instintos e Suas Vicissitudes”.

No referido artigo, Freud aborda o conceito de pulsão, que é central para a teoria psicanalítica. Ele define pulsão como uma força psíquica ou energia que impulsiona o comportamento humano. Freud reconhece duas principais pulsões: a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Thanatos).

Pulsão é um conceito central na teoria psicanalítica de Freud e refere-se a uma energia ou energia psíquica que impulsiona o comportamento humano que impulsiona o comportamento humano. Ela é uma força motivacional que busca a satisfação de necessidades e desejos. Freud diferenciou duas principais pulsões: a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Thanatos).

A pulsão de vida está relacionada à busca pelo prazer, sobrevivência e procriação. Essa pulsão se manifesta de diversas formas, incluindo a pulsão sexual e a pulsão de autoconservação. A pulsão sexual, ou libido, é responsável pelo desejo erótico, pela atração sexual e pelos instintos sexuais em geral. A pulsão de autoconservação, por sua vez, está relacionada à busca de segurança, bem-estar e proteção.

Já a pulsão de morte representa a busca pelo retorno ao estado inanimado. Ela envolve uma tendência para a autodestruição e para a destruição de outros. Freud acreditava que a pulsão de morte estava presente em todas as pessoas, embora estivesse em constante luta e equilíbrio com a pulsão de vida.

As pulsões têm uma fonte biológica, surgindo de necessidades corporais e biológicas básicas, como fome, sede, sono e sexualidade. No entanto, Freud enfatizou que essas pulsões são moldadas e influenciadas pelo ambiente social e pelas experiências individuais.

As vicissitudes pulsionais se referem aos caminhos e direções que as pulsões podem seguir. Existem diferentes destinos para as pulsões, que podem ser influenciados por fatores psicológicos e sociais.

Um dos destinos possíveis é a satisfação pulsional, onde os desejos encontram uma expressão legítima e saudável, resultando em prazer e satisfação. Essa satisfação ocorre quando as pulsões conseguem se manifestar de maneira direta e adequada.

No entanto, quando as pulsões são reprimidas ou encontram obstáculos, elas podem ser convertidas em sintomas psíquicos ou físicos. Essa conversão é chamada de conversão em sintoma, e pode levar ao desenvolvimento de distúrbios mentais, como neuroses. Os sintomas neuróticos são vistos como expressões simbólicas e deslocadas das pulsões reprimidas.

Outro destino das pulsões é a sublimação, onde as energias pulsionais são desviadas para atividades socialmente aceitáveis e culturalmente valorizadas. A sublimação permite uma expressão saudável e produtiva das pulsões, canalizando-as para a criação artística, a atividade científica, o desempenho esportivo e outras construções sociais.

A repressão das pulsões é outro fenômeno importante nas vicissitudes pulsionais. A sociedade impõe restrições e censuras às pulsões, criando um superego internalizado que controla e reprime os desejos individuais. Essa repressão é necessária para a manutenção da ordem social, mas também pode levar a conflitos internos e distúrbios psíquicos.

Além disso, no artigo, é abordado o papel da pulsão na psicopatologia e na psicanálise. Ele argumenta que os sintomas neuróticos são manifestações da luta entre as pulsões e as defesas psíquicas, e que a análise dos sonhos, dos atos falhos e de outros conteúdos inconscientes pode revelar as pulsões subjacentes e os conflitos psíquicos.

A psicanálise busca explorar as vicissitudes pulsionais através da análise dos conteúdos inconscientes, como sonhos, atos falhos e lapsos de memória. Ao investigar esses conteúdos simbólicos, os analistas podem acessar e compreender as pulsões subjacentes e os conflitos psíquicos que podem estar causando distúrbios ou sofrimento.

Em resumo, segundo a teoria de Freud, a pulsão representa uma energia psíquica que impulsiona o comportamento humano. As pulsões têm uma fonte biológica, mas são moldadas pelo ambiente social. As vicissitudes pulsionais descrevem os diferentes destinos e desdobramentos das pulsões, incluindo a satisfação, a conversão em sintoma e a sublimação. A compreensão das pulsões e de suas vicissitudes é fundamental para a teoria psicanalítica e para a compreensão dos conflitos internos e distúrbios psíquicos.

Esse artigo continua sendo uma contribuição significativa para a compreensão da dinâmica psíquica e dos processos inconscientes na psicanálise.

Concatenando ambos os artigos, seguindo a sugestão de perguntas para guiar na preparação do trabalho, o que Freud buscava ao escrever ambos os artigos?  Passo a expor minhas percepções para ambos os artigos.

O artigo “Dois Princípios do Funcionamento Mental” tinha como objetivo principal apresentar os princípios do prazer e da realidade como forças motivadoras fundamentais no funcionamento mental humano. Freud procurou descrever a dinâmica entre esses dois princípios e a sua influência nas experiências e comportamentos humanos.

Ao introduzir o princípio do prazer, ele pretendia enfatizar a importância das pulsões e dos desejos na determinação do comportamento humano. Ele argumentou que o princípio do prazer busca a gratificação imediata e a maximização do prazer, buscando reduzir a tensão psíquica. Nesse sentido, Freud postulou que a busca pelo prazer é um dos principais motores do comportamento humano.

Por outro lado, o princípio da realidade foi apresentado por Freud como um princípio moderador, reconhecendo a presença de obstáculos e restrições no ambiente externo. Esse princípio visa lidar com as demandas e frustrações impostas pela realidade e muitas vezes envolve o adiamento da gratificação em nome de objetivos adaptativos.

Com a elaboração desses princípios, Freud buscava esclarecer os conflitos internos que surgem quando os princípios do prazer e da realidade entram em confronto. Ele defendeu que esses conflitos são uma fonte importante de problemas psicológicos e distúrbios mentais.

Já o artigo “Pulsões e Seus Destinos” tinha como objetivo explorar mais a fundo o conceito de pulsão, abordando suas diferentes manifestações e destinos psíquicos. Freud argumentava que as pulsões representam uma energia psíquica que impulsiona o comportamento humano.

Nesse artigo, Freud introduziu dois tipos principais de pulsões: a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Thanatos). A pulsão de vida está relacionada à busca pelo prazer, à satisfação de desejos e à preservação da vida. Já a pulsão de morte envolve a autodestruição e a busca pela inanimidade.

Ao discutir os destinos das pulsões, Freud abordou a repressão, a sublimação e a conversão em sintoma. A repressão ocorre quando os desejos e impulsos inaceitáveis para a sociedade são mantidos no inconsciente. A sublimação, por sua vez, envolve o redirecionamento das energias pulsionais para atividades socialmente aceitas e valorizadas. A conversão em sintoma refere-se à manifestação dos conflitos e tensões pulsionais através de sintomas físicos ou psicológicos.

Em suma, ao escrever os artigos “Dois Princípios do Funcionamento Mental” e “Pulsões e Seus Destinos”, Freud pretendia avançar na compreensão do funcionamento mental humano, destacando as forças motivadoras do princípio do prazer e da realidade, assim como as pulsões e seus destinos. Essas obras representam importantes contribuições de Freud para a psicanálise, fornecendo bases teóricas para compreender os conflitos internos e suas consequências na vida das pessoas.

Quando indago o impacto de ambos os artigos na produção da teoria psicanalítica de Freud, concluo que esses artigos representaram um avanço importante na teoria psicanalítica de Freud, fornecendo conceitos fundamentais que se tornaram pilares dessa abordagem. A introdução dos princípios do prazer e da realidade e o aprofundamento dos conceitos de pulsão, e seus destinos, expandiram a compreensão da motivação, dos conflitos internos e das dinâmicas psíquicas. Esses artigos forneceram uma base teórica sólida para a terapia psicanalítica e influenciaram o desenvolvimento de técnicas terapêuticas, possibilitando uma compreensão mais aprofundada do funcionamento da mente humana.

Referências Bibliográficas:

Fadiman, J.; Frager, R. (1986). Teorias da personalidade. Tradução de Camila Pedral Sampaio, Sybil Safdié. São Paulo: Harbra, 1986.

Freud, S. Além do princípio do prazer (1920). In: Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos. (1920-1922). In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XVIII (1925-1926). Pág. 17 a 44.

Freud S. (1915). As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XIV (1914-1916). Pág. 123 a 144.

Freud S. (1911). Formulações Sobre Os Dois Princípios Do Funcionamento Mental. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XII (1911-1913). Pág. 237 a 244.

Gay, P. (1989). Freud – Uma vida para nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras. 

Laplanche, J., Pontalis, J.B. (1988). Vocabulário de psicanálise. Tradução de Pedro Tamen. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes.

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