Crônica: O Baile da Madame Ambivalência Emocional
Rafael Marques Menezes,
Psicanalista e Diretor da Escola Britânica de Psicanálise
Havia uma dança sutil no setting, um baile conduzido por uma presença misteriosa: Madame Ambivalência Emocional. Ela, uma figura complexa e multifacetada, movia-se entre as emoções com uma graça que desafiava a compreensão simples. Como psicanalista, testemunhei seu baile em muitos dos meus pacientes, um espetáculo de contrastes e contradições.
Madame Ambivalência não escolhia favoritos. Ela aparecia tanto em momentos de alegria quanto de tristeza, entrelaçando sentimentos de contentamento com fios de melancolia, ou mesclando raiva com toques de compaixão. Sua presença era um lembrete constante de que as emoções humanas raramente seguem um caminho linear ou puro.
Na dança da Madame Ambivalência Emocional, vi como as emoções podem ser paradoxalmente entrelaçadas. Um paciente poderia rir em meio às lágrimas, revelando a complexidade de sua experiência interna. Outro poderia expressar raiva, entremeada com amor, mostrando a profundidade de seus relacionamentos e de seu ser. Essa coexistência de emoções aparentemente contraditórias era um convite para explorar as nuances da psique humana. Inspirado por psicanalistas que enfatizaram a complexidade das emoções, como Melanie Klein e sua teoria dos objetos internos, e Donald Winnicott com suas ideias sobre o verdadeiro e falso self, comecei a ver Madame Ambivalência não como uma adversária, mas como uma mestra. Ela ensinava que a mente humana não é um reino de certezas absolutas, mas um espaço onde múltiplas verdades coexistem. As sessões de análise se transformaram em espaços onde essa ambivalência não era motivo de ansiedade, mas um ponto de partida para um entendimento mais profundo.
O baile da Madame Ambivalência Emocional é uma celebração da vida emocional humana em toda a sua riqueza e complexidade. Ela nos lembra de que, muitas vezes, a sabedoria não está na clareza, mas na aceitação das muitas camadas de nossos sentimentos. E na dança com ela, encontramos não apenas o caos, mas a beleza sublime do ser humano em toda a sua intricada harmonia.
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