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Crônica: A Menina Inocência e Suas Travessuras

Crônica: A Menina Inocência e Suas Travessuras

 

Rafael Marques Menezes,

Psicanalista e Diretor da Escola Britânica de Psicanálise

Em um canto tranquilo da mente, onde a psicanálise encontra seu campo mais fértil, reside uma figura encantadora e esquiva: a Menina Inocência. Ela não é uma criança em sentido literal, mas uma personificação daquela parte pura e intocada que habita em cada um de nós, independentemente da idade.

 

A Menina Inocência, em sua essência, carrega a magia das primeiras experiências e a admiração pelo mundo. Nas sessões terapêuticas, vejo sua sombra nas histórias dos pacientes, nas memórias de tempos mais simples, quando o mundo era vasto e cheio de maravilhas. Ela dança nas recordações de um primeiro amor, na alegria descomplicada de um dia ensolarado, ou no fascínio por um universo de possibilidades. No entanto, a Menina Inocência também tem suas travessuras. Ela pode levar os adultos a um anseio nostálgico por um passado idealizado, um tempo onde tudo parecia mais fácil e seguro. Esse desejo, muitas vezes, mascara as complexidades da vida adulta, onde as cinzas da experiência e o peso das responsabilidades coloriram a tela que antes era preenchida com os tons vibrantes da infância.

 

Os pensamentos de grandes psicanalistas, como Winnicott com suas teorias sobre o brincar e a realidade, ajudam a entender a Menina Inocência. Ela representa a capacidade de brincar, de experimentar a vida com frescor e imaginação, algo que muitos de nós perdemos ao longo do caminho.

 

Em análise, quando a Menina Inocência faz sua aparição, os pacientes são frequentemente levados a redescobrir aquela parte de si que foi deixada para trás. É um reencontro com um self esquecido, com a capacidade de ver o mundo com olhos de admiração e curiosidade, sem os filtros da desilusão ou do cinismo. Mas a Menina Inocência não é apenas sobre olhar para trás. Ela é também um convite para levar essa qualidade para o presente, para encontrar alegria e admiração nas experiências cotidianas, mesmo aquelas tingidas pelas complexidades da vida adulta. Ela nos ensina a equilibrar o saber e o sentir, a experiência e a admiração, a sabedoria e a maravilha.

 

Através do meu trabalho, aprendi a apreciar as visitas da Menina Inocência, tanto nas minhas sessões quanto na minha própria vida. Ela me lembra de que, em algum lugar dentro de cada um de nós, há uma criança que vê o mundo com olhos de admiração e coração aberto, uma criança que ainda se maravilha com as pequenas coisas e se encanta com a possibilidade do novo. E é essa Menina Inocência que, muitas vezes, detém a chave para a verdadeira felicidade e realização.

 

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