A Diferença entre Cliente e Paciente na Psicanálise:
Reflexões sobre os Significados e Implicações
Introdução:
No campo da psicanálise, a escolha das palavras utilizadas para se referir às pessoas que buscam tratamento é de extrema importância. Nesta resenha, abordaremos a distinção entre os termos “cliente” e “paciente” na psicanálise, discutindo como o uso do termo cliente pode esvaziar o significado e reduzir a psicanálise a uma mera atividade comercial. Além disso, exploraremos o significado etimológico e epistemológico das palavras cliente e paciente, bem como o apoio teórico de Winnicott e Paulo César Sandler, que defendem o uso do termo “paciente” para descrever aqueles que buscam a análise.
Desenvolvimento:
A palavra cliente, etimologicamente, deriva do latim “cliens”, que significa “aquele que depende” ou “aquele que busca auxílio”. Por outro lado, a palavra paciente tem origem no latim “patiens”, que remete a “aquele que sofre” ou “aquele que suporta”. A escolha desses termos na psicanálise não é arbitrária, pois cada um carrega consigo uma carga semântica e implicações específicas.
Quando se utiliza o termo cliente na psicanálise, há uma tendência a equiparar o processo analítico a uma relação comercial, na qual o analista é visto como um prestador de serviços e o paciente como um consumidor. Isso pode resultar em uma redução do significado profundo da psicanálise, que é uma busca pela compreensão e transformação psíquica, para uma simples transação comercial. A relação entre analista e paciente é complexa, envolvendo elementos de confiança, entrega emocional e disponibilidade para o trabalho psíquico, que vão além da relação meramente comercial.
D.W. Winnicott, importante psicanalista britânico, enfatiza a importância da paciência no setting analítico. Para ele, a análise requer tempo e espaço para que o paciente possa explorar seus conflitos e angústias de forma gradual e segura. O termo “paciente” evoca essa ideia de suportar, suportar o sofrimento emocional e o processo de análise em si. A paciência, tanto por parte do analista quanto do paciente, é fundamental para o desenvolvimento do processo psicanalítico e a conquista de resultados mais profundos.
Paulo César Sandler, em sua obra “Psicanálise e Tratamento: A Via Crucis do Sujeito”, argumenta que o termo “paciente” mantém uma distinção clara entre o campo psicanalítico e outras práticas que se baseiam no modelo de cliente. Ele ressalta que o uso do termo paciente reforça a noção de um sujeito em busca de tratamento e cuidado, enfatizando a dimensão subjetiva do processo analítico.
Conclusão:
A distinção entre cliente e paciente na psicanálise é significativa e carrega implicações importantes. O uso do termo cliente pode reduzir a psicanálise a uma atividade comercial, enquanto o termo paciente evoca a ideia de suporte e paciência necessários para o trabalho psíquico. Winnicott e Sandler defendem o uso do termo paciente, ressaltando a importância da relação terapêutica, da compreensão psíquica e do tempo necessário para a análise. É essencial compreender que a psicanálise é muito mais do que uma transação comercial e que o processo analítico exige cuidado, entrega emocional e a paciência de ambas as partes envolvidas.
Referencial Teórico:
SANDLER, Paulo César. Psicanálise e Tratamento: A Via Crucis do Sujeito. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
WINNICOTT, D.W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
Escrito por Rafael Marques Menezes, psicanalista, supervisor clínico, diretor da Escola Britânica de Psicanálise e autor da série infantil “Floresta Encantada” disponível na Amazon (somente em formato ebook).