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As teorias de Melanie Klein sobre inveja, voracidade e gratidão dentro da história de Cinderela

As teorias de Melanie Klein sobre inveja, voracidade e gratidão 

dentro da história de Cinderela

Andreia Torres,

aluna do Programa de Formação da Escola Britânica de Psicanálise

É sabido que os contos infantis desempenham um papel significativo no mundo imaginário das crianças. Através dos contos de fadas, as crianças têm a oportunidade de explorar um universo repleto de fantasias, permitindo que sua imaginação flua e experiencie um mundo oculto, no qual algumas dessas fantasias podem tanto alegrá-las quanto assustá-las. Quem de nós não passou por experiências de fantasiar a partir dos contos de fadas? Cada personagem traz consigo um complexo de sentimentos vivenciados pelos protagonistas de cada história, e muitos desses sentimentos ressoam nos espectadores – sentimentos, emoções, frustrações, vitórias, reflexões, amores e decepções, todos esses elementos fazem parte do desenvolvimento infantil.

Vale ressaltar que os contos de fadas contribuem para a construção da subjetividade, oferecendo soluções para os conflitos enfrentados pelos personagens dentro da narrativa. Tais conflitos, presentes na infância e na vida familiar, podem ser tanto conscientes quanto inconscientes.

Nesse contexto, a escolha recai sobre o conto de Cinderela, explorado sob a perspectiva psicanalítica, com foco em três conceitos de Melanie Klein: inveja, gratidão e voracidade. Esses conceitos serão analisados em relação a quatro personagens da história: as irmãs Anastasia e Drizela Tremaine, a madrasta Lady Tremaine e a própria Cinderela.

Anastasia e Drizela Tremaine, embora distintas, compartilham o desejo pelo mesmo objeto. A rivalidade entre elas é um campo fértil para sentimentos de inveja. Esse sentimento emerge quando a criança percebe sua impotência diante do objeto desejado, gerando ansiedade arcaica e fragmentação do ego. As irmãs competem entre si, almejando destruir qualquer benefício que Cinderela possa obter, revelando um desejo de destruição e pulsão de morte.

A madrasta Lady Tremaine é autoritária e destituída de empatia. A análise psicanalítica revela sua voracidade, um desejo de devorar e destruir. Esse sentimento surge da privação das fontes internas e externas, associado a impulsos destrutivos. Na narrativa, Cinderela contrasta com a madrasta, exibindo doçura, simpatia e empatia. Ela manifesta gratidão e equilíbrio emocional, refletindo uma integração do objeto parcial e a passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva.

Essa jornada de compreensão e integração dos sentimentos reflete a construção de um ego fortalecido. A gratidão emerge como conceito primordial para essa construção. Quando a criança é capaz de amar e ser grata, ela consegue lidar com a inveja e a voracidade, resultando em um ego resiliente capaz de receber e dar. Essa evolução permite lidar com conflitos e dificuldades, fortalecendo o ego e promovendo uma maior adaptação ao mundo externo.

Dessa forma, a compreensão dos conceitos de Melanie Klein aplicados à história de Cinderela nos conduz a uma jornada de compreensão dos complexos sentimentos humanos e sua evolução para um ego fortalecido e resiliente.

Referências:

  • Melaine Klain, Obras Completas. 1964.
  • Melaine Klain, Obras Completas. 1957.
  • Melanie Klein, The Psychoanalysis of Children. 1960.

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